quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Aquela conquista.

-Alô, Aninha? A ligação tá péssima, vem cá? Passei naquele teste de elenco hoje, quero comemorar... buteco da esquina, já!

E sai Patrícia, cabelinhos semi-lisos até os ombros, joga de um lado pro outro até chegar no bar.

- Amigo! a de sempre por favor, e um maço de cigarros também viu?

Aninha demora. E demora. Mas Patrícia nem liga, espera observando quem passa...
Vê o gari, a essa hora ainda tarbalhando... Mas aproveitando claro.Finje que pega uma folha da ruela mas na verdade só abaixou pra ter melhor visão das pernas da mulata que passou adiante. Uma graça de vista.
Os caras musculosos batendo um nas costas do outro, testando quem é que vai pegar mais que quem numa noite dessas... As crianças correndo pra casa, antes que as mães cheguem gritando... As meninas se exibindo, aquelas que sequer se importam se existem olhares direcionados ou não (estas, sempre chamam mais atenção, justamente por serem assim, desencanadas). Os cachorrinhos e cachorrões passeando com seus donos ficam sem entender por que é que estes mesmos donos precisam segurar na coleira pra não se perder.. 'será que sem o meu faro eles não encontram o caminho para casa?'. Bobagens, bobagens.

Um golinho de cerveja pra inebriar a noite deliciosa de verão.

Procura no copo um reflexo de estrela. Qual daquelas douradas teria um gosto de cerveja?

Os olhos de Patrícia crescem de ambição a cada gole, a cada trago, a cada respirada intensa que ela dá. A cada detalhe e toque que ela rouba dos personagens da rua. A cada novo paladar.

Ei, lá de longinho, de chinelo e camiseta, largada... vem Ana. A namorada.

Uma travessia no farol fechado, um toque, um sorriso, um beijo, um gole.

A estória sempre acaba, os detalhes sempre fogem de vista quando chegam os olhos de Ana: A amada.

Neuroses de um passeio feminino. (Ou 'crônica de quase Amélia')

Pego um ônibus.
Ele tá lá, tá lá, no ponto, ficando cada vez menor, cada vez mais distante... e de repente eu não o vejo mais. Ai droga, eu n ão o estou vendo! Me resta é virar, olhar pra frente.
Será? Vou ficar umas boas horas fora, existem obrigações a fazer... Mas ele... O que ele vai fazer enquanto eu estiver fora? Ler um livro, assistir tv, coçar o saco... e por falar em saco, aquela putinha nova do ap. 22, com certeza.
Já até vejo, eu mal saí e ele já se encontra com ela na entrada do condomínio. é toda santinha, aquela cintura fofinha das meninas novas, o vestidinho discreto, só por que sabe que não precisa querer chamar atenção. Ele leva ela pra nossa casa, de mansinho pro quarto e.... tarado! vadio! que absurdo, na nossa cama! NÃO NÃO! Naa minhaaa cama, que eu comprei com meu dinheiro! Vai ver quando chegar em casa.. é melhor até eu voltar agora e... que isso? para! não imagina bobagem. Olha lá ein! imagina, imagina.. vai que acontece? Não. Que isso, tá louca? Tu é mais você. E quer saber? mesmo se ele fizesse, quem tem o poder é você mulher. Tu te a grana, ele que passe fome, tu leva até a cama pra ele num ter onde deitar.
Tadinho. Pensar tudo isso dele, vai que tá lá, quietinho, me esperando chegar. Ou nas pornografias da internet né... até parece que não sou mais a loura gostosa que ele conheceu naquele dia de carnaval! Precisando destas coisas... e eu, euuu que me vivo me doando inteira pra ele chegar e se desfazer de mim assim! eu fico aos pedaços!
Pedaços? que pedaços mulher? se aguenta. tu é mais...

-Ajuda senhora?
-Não não, só olhando os tecidos.
-Se precisar é só chamar viu? Meu nome é Selena.

Selena.... seios fartos, se ele estivesse aqui já estaria gostando do passeio... Se bem que ele nunca deixa transparecer.. Mas eu sei, eu sei. Mulher sabe destas coisas. Ahhh mas se eu pudesse arrancava todos os decotes das mulheres do mundoo e...

-Selena! Me separa 3 metros de cada um destes, por favor.
- Dirija-se ao caixa.

Aiii, eu me aguento, preciso. Vou correr aqui pra não dar tempo nem dele pensar... Quando chegar lá, ou pego ele com a boca na butija ou até chego antes, evito o desespero. Aiii meu coração....

- 60 reais. Obrigada.

Aii onibus, chega logo... meu marido tá lá, me traindo e Deus assim, com essa falta de pressa... Que lerdeza! Ah, enfim, o ônibus.

Como chacoalha essa droga. Mas não deve chacoalhar mais que aquela cama agora, ahhhh... E se não for com a novinha do 22? e se for com uma mais nova ainda? pedófilo! Se diz intelectual mas adora pegar as menininhas estupidas. Ou não, talves esteja me tr aindo com alguma fanática por cinema.... Ou então todas! Ahhh eu vou me matar...

Ou não. Coitado.. Ai meu Deus perdão.. um marido tão sossegado, tão manso e eu aqui pensando coisas... Coisas que são de se pensar, é verdade.. afinal homem é homem e.... Aiii cadê minha chave?

(porta abrindo)

-Oi amor! Comprou tudo que queria?
-Uhun.
- Foi muito caro, querida?
-Uhun.
-Tá tudo bem benzinho, que cê tem?
-Nada. Tá tudo ótimo Gaspar. Tudo ótimo.

E ele, claro, para tragédia de sua pobre mulher, nunca entende nada. Traíra.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Silvia.

Por discuido: Eu quase passei por mim; Assim, tão discreta, tão meiguinha, como quem não quer nada, que quase não me notei. Fui passando por tonta, bancando a inocentinha... Mas que forma mais frágil e indelegável de me fingir de ninguém, ein? Mas eu não posso mais ser assim. O mundo cobra de mim. Não, não, mil perdões, isso é só mais uma desculpinha fajuta; Quem cobra demais de mim sou eu mesma. Meu marido, ou melhor, meu ex-marido, por ora já o fez, coitado, mal compreendia que a minha fragilidade exibida era por ele, para agradar seu espirito fértil machista... acho que nem deu, como os outros, se encheu e se foi da pobre fingida, frígida e infértil de coragens.
É por isso então, q'eu tô sozinha.
Já vi bem que não adianta se fazer de santinha. O negócio mesmo é cair na correria... sabe? aquilo que eles chamam de farra. Botei mesmo meus sapatos de salto, até na cabeleireira eu fui hoje, só pra farrear.
Chamei as vizinhas, a moça do altar, até as galinhas, e me meti dentro duma boa noite de algazarra, que é bem pra tirar a veste, esse manto de s'ANTA.
Por sorte (ou azar) não encontrei homem nenhum. Até fui com intensão de dar uma de puta sabe, só pra enfrentar e matar a Maria aqui dentro, mas na hora, eu não quis. Fui só minha, peguei a noite para me pegar. Não bebi demais, não dancei vulgar, e só acendi um cigarro pra descontrair, pra me achar sexy... mas, assim, por mim mesma mesmo... não tinha nada nem ninguém não.
Como disse, passei a noite comigo. As meninas foram dançar, os caras foram se roçar nas saias floridas delas e eu, só fiquei. Sentei ali, no banquinho do centro, folguei as sandálias, pedi um cigarro. Fumei. Lentamente... v a g a r o s a m e n t e, e, nos pensamentos altos e cada vez mais altos, conversei comigo, hoooraaassss a fio contando a mim mesma tudo que fiz nos ultimos anos: as alegrias, as mágoas, as bobagens, as trsitezas, as desventuras, as quase venturas, as poucas e fatais aventuras que a minha própria pele e o eu que estava conversando ousou em duvidar e ahhhhhhhhh. Até chorar eu chorei. Desabafei, joguei tudo pra fora mesmo e senti que eu estava me entendendo. Me dei tão bem comigo mesma que, olha, pensei em me levar pra cama... mas acho que seria rude demais, assim, pro primeiro encontro. Mas eu acho que é assim mesmo, os primeiros encontros são cheios de dúvidas e divididas. Mas, a palavra que não existe nos primeiros encontros é a divida, e isso é ótimo por que desta, eu tô é farta.
Mas sabe, o eu queria me levar pra cama mas não tomou coragem, então eu fui de mansinho e, quando vi, já tava em casa. Na cama. Sem roupa. me admirando no espelho em frente. Sorri; o que mais há de se fazer quando tem alguém te fazendo tão bem assim? te admirando, te dando tanta atenção logo num primeiro encontro.? Eu me encontrei. Como eu pude ser tão cega? Ali, sempre na minha cara. Na minha própria cara, mesmo!

43 anos e finalmente encontrei o amor da minha vida.

Por alívio.