segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Garota bacante.
domingo, 25 de janeiro de 2009
-O que vê?
-A eternidade! Ela brilha em cada estrela, aprofunda os cosmos, constela constantemente para ver-te sorrir, não vê?
Ele sorri, e os olhos se transformam em duas pequenas estrelas castanhas.
-Dou-lhe as estrelas, a lua e o que mais desejar pra ver outros destes teus sorrisos infinitos... o universo que te contempla, sempre tem esta incrível façanha: consola como ninguém... Neste céu longo e profundo que habitamos, nos faz sentir pequenos e distantes, sozinhos e vazios, mas ainda sim, consola. É como perceber a própria grandeza só olhando e imaginando o resto do universo!
Ele era capaz de sentir-se céu.
-O campo em que estamos? A terra. Entranhando tua glória até as raízes. Teu cabelo aflora, teus braços e pernas têm raízes tão intermináveis que quando anada, e nem as percebe... Mas se soubesses como são enormes e densas, e qual o ponto que te ligam à esta bela terra...aaahhhh, nunca saberíamos...
Ele abriu os braços e sentiu-se imenso, com o céu a lhe completar.
-Mas... Mesmo quando o céu não for imenso suficiente para te fazer voar, ou o campo tão profundo para finca-lhe à terra, e mesmo quando as estrelas não te derem mais um riso, eu estarei aqui, tão humana quanto você, pra contemplar a simplicidade.
Sem paciência para adornos.
Sem paciência para adornos. Farta-me o corpo sofrer ainda mais.
Solto as borboletas dos cabelos, as mariposas antigas dos olhos. Os meus braços abertos, transformam-se em asas! Jogo-me solta, leve, vazia de todo mundo. Das minhas pernas, lagartos de belas escamas luzentes, traçando longos caminhos, transpondo o tempo. Não há tanto medo do juramento ou do perjúrio, assim como não há mais chão suficiente para meus passos... resta-me, em meio o vazio imerso, uma angústia, uma alfição. O tormento de perder o que nunca se teve.
Cobiço arrancar-me o nada do peito e lacerá-lo, se, o nada palpável fosse. Arranho o corpo... Nada lastimo, a não ser a perda de não sentir nada. A dor corpórea não me causa mais reacção... ainda sim, as feições são as mesmas. Extendo-me, largo-me no buraco negro do mundo para perder as sensações vis... elas não me cabem mais.
Busco-me existência, se é que há. Uma palavra :Sentido.
Há uma insanidade ainda maior dentro do meu corpo.
Desejo estar pronta para descobri-la.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
As pipas.
Eles, sentados à relva, observavam silenciosos os seus redores. Passa-lhes pela face, o vento, mesmo que, segundos antes, acariciou a pipa alvoroçada no céu:
- Vocês podem fazer isso? – Ela indaga com doce transparência.- Viver como uma pipa?
Não, compreendendo, eles trocam olhares e não encontram clareza.
- Viver como uma pipa! Voar por todos os lados, tornar-se parte do infinito, flutuando, cortando ventos e colhendo cheiros, contemplando à vida plena, sem que nada lhe escape aos olhos ou aos sentidos, completo lá em cima. [ Há algo no mundo que comunica mais liberdade que o céu? ] Ainda sim, sabendo que há, em ti, uma linha, ainda que invisível, que lhes unem a mim, sempre [ enquanto o desejo perdure ] ?
Não entregariam a liberdade, afinal, teriam plena consciência que basta alçar-se um pouco mais adiante, que o fio esgotaria, estouraria com facilidade, pronto à suas escolhas e despedidas. Além disso, se for de gosto ficar, esta linha abrange o mundo, suficiente para uni-los à mim e à liberdade, irrefutavelmente. Vocês poderiam fazer isso?
- Eu jamais romperia o fio. – Um deles segreda.
- Contigo sou livre, e à minha vontade, completo.
Os olhos deles brilhavam, e refletiam o céu nos olhos dela. “ Você é meu infinito” .
-Somos tuas pipas.
Naquele instante, ela percebeu o quanto aqueles olhos a levavam ao céu, guiavam seus prantos.
Percebeu também ser uma pipa.
- Sim, eu também.
Os olhos, cristalizados, guardavam um céu dentro de cada um deles, e parecia ser capaz de fazê-los voar tão alto e tão longe, que envolviam-se nas nuvens, até que tornaram-se pleno céu.
Sempre contíguos.
O dobro em mim.
Tudo há de manter este certo perfume; discimulado, pungente, imaculado.
E conforme o vento cresce, o perfume aumenta, os olhos escurecem e a alma incita.
Nada mais natural que desvanecer entre o paraíso dos corpos sobre a paisagem de ser ...e amar.
Ahhhh.. as formas de existir são admiráveis.