terça-feira, 18 de janeiro de 2011

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Carola é mulher fogoza. Fogozíssima, diga-se de passagem. Daquelas que exala vermelho e romãs quando passa. Alías, é assim que os homens a comparam: com romãs, por algum motivo, e é por isso que ganhou este apelido.

Acorda cedo, ouve tango e logo acende seu cigarro. Toma banhos perfumados, veste decotados e vai trabalhar. No caminho, passeia se sentindo vigiada. E talves esteja; Todos a olham, nas ruas, nos mercados, nas lojas, nas esquinas. Nas esquinas principalmente pois é nelas que passa suas maiores horas, logo depois das 12 horas compromissadas à sobrevivência.
Mas, por ironia aos romãs, de intitula mulher romântica. Acredita que, quanto mais tempo passa nas ruas, mais chances tem de conhecer o homem de sua vida. Não Molda-lhe muitos detalhes e acredita que vai reconhecê-lo só pelo andar, quando o vir.
E foi assim que entrou nessa: quando qualquer homem passa, vem a certeza que chegou o momento preparado pelo destino, o seu homem.
Daí, chama-lhe, conversa, convence-o com seu cabelos negros e lisos até a cintura e suas lentes de contato azuis. Leva-o para casa, faz ceninha, ama loucamente. Ela ama, pois eles, normalmente, nem percebem que por baixo das carnes fartas há um coração. Vão embora antes do café e, Carola se parte em pedaços comendo sozinha na mesinha de canto da cozinha. E repete sua rotina.

"É hoje" , diz ela, como que num jargão de novela ou comerciais. Sequer como filme de amor presta... E é a única que não vê a teia em que se enfiou, vendendo-se tão barato por um sonho guardado, fictício, desde criança nas histórias de princesa.

Não chora nem reza, e seus "sonhos" nem podem ser entitulados assim. São só pedaços de uma falsidade conduzida, consumida, resumida, dia após dia, como um poema de bêbado no papel.

Dia ou outro admite que, na verdade, só quer descançar. Sua visão de amor é mesquinha... e um tanto quanto apressada. Não precisa gostar mesmo, nem achar bonito, nem ser inteligente, nem ter com que elogiar... Basta sentir um braço pesado, suado de trabalho... pra não ter ela que trabalhar.

Vai levando assim, sozinha sua vidinha, esperando logo que um príncipe de carro - seja qual for- e de terno de bolsos fartos chegar e salvá-la de ter que acordar. De ter horários, de ter compromissos, de ter salário, de ter que andar, de ter que cozinhar, de ter que ter coragem, de ter que se honrar....

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Casa oca.

Sou intermédio.
Lúcia, por sua vez, é meio tédio.
Gosta de ficar em casa, e assistir tv - coitadinha, acredita que olhando pra telinha, vai ter mais o que dizer.
Não é curiosa, nem dança flamenco. Também não samba, nem sabe cantar, tampouco expõe suas idéias... e isso seja talvez porque... por que... Por que Lúcia não tem nada disso. Simplesmente não é dela. Nem é dela apreciar perfumes, nem se apaixonar nas esquinas, nem ajudar velhinhas, e, pra aumentar seu marasmo, nem de cerveja Lúcia gosta.
Ela gosta de ficar parada, com olhar vazio na janela. Isso porque só tem uma coisa que Lúcia sabe: Que é bonita. Então, pousa na janela pra que alguém note as graças dela. E quando se entedia, dorme.

Gosta também da casa limpinha e, se cozinha, quer logo limpar denovo pra não sentir o cheiro dos temperos ou da carne cozida.

Se entra um barulho lá de fora, fecha logo as janelas. Gosta de viver de pijamas e pede compras pela internet.

Lúcia -tadinha- quase que se sente bem assim, se esquivando de tudo. Se escondendo do mundo.

Ela, faz parte dos não participantes, dos não desconcertantes da vida. Mas escolheu sua filosofia:

Lúcia se poupa dos riscos, e optou por não existir -na mente dos outros- vazia.