domingo, 19 de julho de 2009

Café e conversas agradáveis,



Tudo que preciso.

Desabafos íntimos sobre meses macilentos.

Eu não gosto da maneira como você descuida do cabelo, eu não gosto das suas roupas e da forma como se barbeia...
Eu percebi que olho nos seus olhos claros e eles parecem esfumaçados por uma resistência e proteção à sinceridade...
Eu não gosto das mentiras... você sabe bem disso, uma coisa que eu sou é sincera...
E reciprocidade é uma excelência.
Eu não gosto das suas conversas sobre filmes de super-heróis e dos seus jogos de vídeo-game...Eu posso até me divertir as vezes, mas pela minha expressão você sabe, eu me encanto por conversas mais... mais... mais encantadas e mais longínquas, e até mais criativas que as falam de resident evil.
E entenda, assim como eu estou entendo, que apesar de eu adorar a sua companhia, e derreter-me na tua boca, eu não sou tão sua assim...na verdade, nem um pouco.
E o melhor é que eu destrinchei e descobri a raiz desse meu sentimento por ti: desejo e desafio..
Convenhamos, eu nem gosto tanto assim..não tem haver com amor..
Sequer tem haver com paixão..
É puro gosto por desafios, assim, sem querer, de conquistar-te e ter-te, possuir-te e só... Provavelmente o jogaria fora depois disso, ( aposto, sinceramente até minhas saias, de que você faria o mesmo)

A nossa desimportância, meu bem, no fim dessas contas, é recíproca.
O primeiro copo na beira do asfalto alarma o inicio da noite. Ele, anunciando a primeira gota ao desvio, prepara a saliva e equilibra-se com garrafas no meio fio, dançando por entre as pedras e copos, jogando o liquido em cada um deles, jorrando à litros pelos espaços.
Os cabelos ondulados confrontando com a cor da noite... Os olhos disputando atenção com as estrelas.

O bom rapaz de uma doce cidade, quase vilarejo, perto de montanhas onde brotavam flores de todas as espécies e cores, nos dias primaveris... E reproduzia cores levemente agridoces no outono, vistas facilmente de todas as janelas.
Fez de um pequeno pacote, mala. E sua entrada para qualquer mundo eram algumas notas, cigarros cheirosos e licores da antiga cidade. Para bastar-se ali, transformando a beira da auto-estrada em celebração, tirou a gaita do bolso da jaqueta escura. Bastava-se por completo; nada mais havia de necessário, assim como nada mais havia de abatê-lo.

As notas ecoando pelo velho caminho, seguindo soltas pelo infinito acima e abaixo, e até o ultimo vestígio de estrada.
Acompanha-lhe a poeira erguida pelos carros imundos, as estrelas que brincam de disputar beleza com seus olhos.


Esta era uma belíssima noite para vadiar.

Soberbas noites de verão.

O cheiro de boa comida dançava até fora das janelas, e pude senti-lo quando estacionava a bicicleta diante da primeira floreira. “Ah sim, já estou em casa” pensei, não apenas física, mas além dos detalhes, espiritualmente... Não poderia estar em outro lugar... Não haveria no mundo, espaço melhor para acomodar o corpo e a alma.
Ouvia a música tranqüila [minha favorita neste estilo] desde a entrada. Descalcei-me, coloquei os sapatos confortáveis no assoalho e senti o chão limpo refrescar meus pés. Pessoalmente, o momento preferido do dia.
O gato roçou-se em minhas canelas, e olhou-me nos olhos, crente que ganharia o colo. Peguei-o e fui até a varanda, apresentar-me a vista do dia: Noite de calor, com leve brisa, trazendo o perfume das jardineiras até a face, sem esforço, enaltecendo a noite com farto prazer. A sala, de luz apagada e velas simples postas ao meio da mesa, convidavam-me a sentar; nestes dias, aquelas cadeiras parecem-me ainda mais confortáveis.
Olhos disputando beleza com as estrelas serviram-me fartamente a mais perfumada refeição, até então, da minha vida. Provei com gloria, daquela noite particularmente agradável, embriaguei-me de verão, de doçura e prazer. Ganhei um beijo fresco antes do banho, e depois dele, quem sabe; ainda mais profundamente aproveitei-me.
Estas soberbas noites acaloradas de verão.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Definha os musculos magros descolando-se um por um do esqueleto espesso.
Procura pela poeira... é tarde: hora de comer.
Ela rasteja, vagarosamente, não por desejo, mas por impotência. Eis então o motivo do seu desespero: movimentar-se com mais perspicácia é de que depende a sua vida.

Granhidos e gemidos ralos e arranhados, forçados pelo desespero do ronrronar sonso e cruel do próprio estomago.

Dilata e te lateja os olhos.

" O monstro que há por dentro, o ser que dói aqui no meio."

Hora espasmo, hora dor.
Contando mentalmente os chutes pungentes das pernas cartilagenosas no meio da barriga, à alcançar por dentro o intestino.
Abre a boca e solta a pasta verde que lhe seca a garganta, passa a lingua viscosa pelo chão lixante caçando alguma grama de poeira que lhe possa cobrir de leve o estômago. Poeira não há, nada. N A D A.

A pele descascada não serve para protejer-lhe, sequer respira agora.
Seca, sem o liquido dos insetos nas entranhas ou nos fios e poucos pelos. Tão necessários.

Agonizar e lamentar a própria existência.
Ter pena de si próprio é o primeiro passo para aquele... o pior de todos os fins.

Eis a dor pungente de estar definhando só, até a queda da ultima ruína.
O peso morto,

O peso solo,

O passo farto,

A carne morta,

O corpo ralo,

A estirpe podre naquela terra fraudulenta
O assoalho em pedra, escavado à pás lentas.

Morto solo no meu quarto...

Moribunda a resta vida
Torturada pela enguia rapida que salta nas costas, de porão em porão da coisa inerte.

A coisa...
A coisa...

A coisa abre a boca profunda do estômago raso em pó e aço
em puro e osso
e alça o arpão, que vem do ventre e rasga o aço, queima o pó e cheira o raso.

Cheira o raso e eis a fome.

Surge em cola e poço, eis, fome:
o desejo inutil de consumir novamente o teu desgosto.

Engolir o teu esforço
Cuspir à toa a tua fraquesa.

Me venha à tona,
e queime a outra.

Aquele resto esquecedisso que te falta

que te mata

que te sola.

Ah, solidão...

A S O L I D Ã O.

A solidão.

domingo, 12 de julho de 2009




Solidão




...

A espera.

Acima das gotas que eu permiti cair em meu mundo, moinhos brotam raios de ar claro, feito luz incandescente, limpando os olhos daquele pó amarelado que as borboletas soltam de suas minúsculas patinhas. Os olhos, minuciosamente arquitetado das borboletas me absorvem, vendo-me andar de um lado a outro da sala fria, com nada entre as mãos. Elas me comovem com tal solidariedade. Ou, ao menos, elas se tornam seres comovidos com a amarga angustia que brota entre os meus seios. As goteiras mancham o teto e o chão de sanguínea antiga, o chão de madeira seca escura e velha, fétida por cupins.
Ainda mais fétido, os meus cabelos pouco lavados a muito tempo, de longos e curtos fios desmodelados, que caem por todos os lados e grudam no chão quando se juntam à sanguínea.
Malditos filtros jogados no tapete-cinzeiro, ao canto, perto da janela [macete comum neste ambiente pouco hospitaleiro, muito útil e nada convencional]. Janela, que chamo de lar.
Abro-a calmamente (pois me agrada o rangido fundido com o som dos vidros rachados, rasgando lentamente o silencio, caindo feito pedra ao meio do eco), observo seu metal de segunda linha pintado a duas mãos de branco pela antiga moradora, para cobrir aquele terrível cinza enferrujado que ficara marcado depois de tantas chuvas. Na verdade, me agrada a ferrugem daquelas janelas: guardam certas histórias de certas aventuras por que ela passara.
Ponho as mãos nos apoios, apoio os pés na base. Ferro gelado, ainda mais porque é inverno... Faz um frio rigoroso por aqui no fim da tarde e por toda a madrugada.
Sento-me à base, ponho os pés para fora, fazendo-os balançar como pêndulos que batem nas paredes externas até ficarem arranhados pelo ignorante muro mal lixado (ou seria eu?).
Jogo os cabelos para traz das costas, para que não me tampe a visão. Olho com graça a agitação absurdamente melancólica, abaixo dos meus pés; Por alguns momentos, eu não faço parte desta cidade... Estou degraus acima dela. Talvez seja a única coisa que me dê uma sensação efetivamente altiva.
Pensar ou não pensar é bem mais fácil aqui, sem o peso da gravidade ou das situações.

Tornozelos e joelhos arroxeados pela friagem.
Esta janela me guarda segredos e prestígios.
O canto mais aconchegante e, até, o mais válido dos cantos.

Braços inválidos de tanto frio...
Ahhhh,Meu lar.

Eis que, de repente, um exalto: Barulho rápido de chaves na maçaneta, batida de pé na porta e ela se abre: chegara!
A quem eu, minutos antes, atravessava a sala curta mergulhada em aflição.
Chegara, com suas botas pretas e seu longo e velho casaco.
Leva-se à cozinha e serve-se de uma boa caneca de café. Coloca-a em cima do banco, tira o maço de cigarros novos do bolso, pega o primeiro, cheira-o e guarda-o novamente, virado para cima.
- Sabe o que dizem: o primeiro é o cigarro da sorte. Deve ser fumado por ultimo.
Ele disse com ares de escárnio... Como se ainda ocupássemos nossa mente de alguma fé ou esperança, mesmo que ridiculamente colhidas de um maço de cigarros.
Pega sua preciosa servida da manhã e aproximasse da minha janela, onde o vento pode alcançar-lhe o rosto. Ele apóia os cotovelos, e repousa uma das suas mãos cadavéricas e descoradas (aquela com o cigarro)... Um tipo garoto macilento. Ele adora fazer isso e admirar o fumo espesso se destacar com a cor da minha pele arroxeada.
Uma mariposa sem cor, esquelética pousa em sua mão
-Não sei como elas sobrevivem nesse tempo.
Ele sorri, fracamente... Talvez não tenha mais forças mesmo para movimentar os malditos músculos do rosto. Por isso derrotamos os nossos corpos durante as madrugadas.
Olhares deturpados. Ele para o mogno, eu, para o horizonte.
Um leve tapa compreensivo nas pernas. Bem, eu já sabia o que significara. Minha parte favorita dos domingos: Deu-me a mão para descer ao quarto, levou-me ao colchão instalado ao meio. Ligou o rádio e encheu-nos de cobertas.
Uma cena agradável: Nós, uma boa garrafa de vinho barato, nosso novo maço de cigarros, e a cor azul pálida do frio transferindo cores inebriantes que se dispunham por todo o quarto.
Ele se tornara azulado pela luz nas janelas. Os olhos entreabertos trocam afagos durante as conversas e as musicas que cantamos solenemente.
A fumaça decora o quarto durante todo o tempo, e eu o abraçava com todo o calor que ainda restava nos braços.
Dopantes.
Transformei num verdadeiro longa-metragem em minha mente, com cenas tocantes e musica de fundo. Até doces fotos de pôsteres velhos.

Mal podíamos pensar em ter que descer novamente para comprar outro maço.