sábado, 27 de junho de 2009

As horas passam como vento entre minhas mãos frias. O corpo com contrações e reflexos está encolhido como um filhote sem mãe, no canto esquerdo, onde bate menos luz. Não, a imagem não é pobre, sequer degenerativa... Não neste momento.
Os pensamentos e as imagens translúcidas na mente passam curtas filmagens de uma vida que não mais lhe pertence... Ai, que alívio.
As pernas protestam! O que não há de ser protestado... É decidido o acontecimento final. Ponto. Estes pés não andarão mais por aquela calçada, a dos becos vazios sem searas.
Nunca foi dom de essas mãos apanharem sonhos de fascínio e nem força para isso tiveram esses braços... Apesar de serem longos suficientes para tal... Não, não, sem desculpas: o maior empecilho sempre foi a falta de desejos.
Ao mais, prefiro realmente estar no canto mais escuro deste quarto, até que os músculos perdoem e eu possa caminhar pelo meio daquela outra estrada, pelo meio do mundo sem ser afligida pela dor e desamparo destas minhas costas fracas que não protegem os órgãos de nada, nada.
Enquanto há a convalesça, ei de esperar meu próprio tempo. Desta vez, sem pressa, sem sequer uma maldita gota de anseio.
Ficarei aqui, hora agonizando, hora morta, ora farta pelos espasmos. Hora, maior se não todo o momento, ei de ser nada. Nada.

sexta-feira, 19 de junho de 2009



Pastel seco e carvão sobre papel
tamanho: A3

quinta-feira, 18 de junho de 2009



sem nome - Pastel seco e pastel oleoso sobre papel...

Mais um dos meus desenhos....

Surpreendida pela paz que o breu pode causar.
A boa solidão, a doce solidão, não mata.
O silêncio quebrado pelo som do cigarro tornando cinza enquanto trago.
Nem sequer o vento ousa interferir à tal soberba.
Silêncio bruto, sossegado e forte..
A minha intensidade inclinada às liberdades de uma noite cega.
Não á limite visível que me estanque.

E que não me ouse estancar!


... não há existência na escuridão, assim como não há a dor de não ser.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Por que pulsa?
Dentro de mim, assíduo.... penso e lá está voce, pulsando.
Durmo, acordo, sento, descanço, juro, perjuro, rasgo, desvaleço.. e lá está você, martelando peito à dentro, sem pausa.
Não é provavel... tem vida própria dentro de mim e eu nada posso fazer a não ser aceitar-te aí, com som grave e surdo constantemente!
e como se não bastasse o ruído que me faz, ainda tenho que aceitar ser apunhalado pelo que não devia ser.. deveria ser o contrario!
Coração não apunha-la, mas é apunhalado!
Para mais: me faz doer.
Não são os outros que te rasgam, mas a si próprio faz para rir! me trai assim, dentro do MEU próprio corpo... como tem coragem?
Me dilacera dentro, e do que sou capaz para escapar da tua insolência?
Bate à pélago...
Range aqui, e diverte-se em mim. Sofre por me querer ver sofrer...
me faz doer, me faz doer, me faz doer....

doer...

Ninho de lagartas.

Cheiro forte de láudano nas cobertas e nas almofadas... é por isso que acorda.
Abre os olhos, e entre vertigens encontra a face esgotada do tingido e velho homem que agoniza, na verdade, dentro de si mesma. A alucinação de um ser exterior lhe causa náuseas e uma terrivel insonia.
Por que bate tanto esta maldita janela? madeira com madeira, pungentes relinxando... parecem fazer de proposito para atrodoar-me a enxaqueca.
A esta dor de cabeça... as estrelas entram no quarto como guisos, mas são incapazes de iluminar mesmo que apenas uma fresta daquele quarto sombrio.
O corpo não é mais tão altivo, nem os cigarros parecem gosto elegante.O café amarga e o corpo dele ao lado é repugnante.
Até mesmo o som fatigado e rouco da própria respiração lhe farta, lhe cansa.

Ninho de lagartas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O alimento nu sobre mesa ainda geme... Treme constante a angustia da falta do meu ao lado do seu...
O corpo úmido e gasto transparece a beleza dos olhos, dos fios de cabelo e das partes naturalmente moldadas... O tórax desenhado, a entrada do ventre... As entradas das coxas. Os músculos contraídos pedindo descanso, a mente exacerbada clamando mais um gole do que antes lhe entreguei. Os olhos não mentem, por mais dissimulados que lhe pareçam, demonstram cada vontade dos seus caminhos permeáveis.
Um cigarro aceso descansando ao lado das pernas, as nádegas formadas, cobertas por um deleite da mão esquerda, propositalmente decaída um pouco a frente dos lençóis frios, insinuando a minha frágil ausência na cama, além do tempo necessário.
A boca seca sussurra débil e ardentemente:
“Retour”.

Entra pela janela o sublime frio daquela cidade.