As horas passam como vento entre minhas mãos frias. O corpo com contrações e reflexos está encolhido como um filhote sem mãe, no canto esquerdo, onde bate menos luz. Não, a imagem não é pobre, sequer degenerativa... Não neste momento.
Os pensamentos e as imagens translúcidas na mente passam curtas filmagens de uma vida que não mais lhe pertence... Ai, que alívio.
As pernas protestam! O que não há de ser protestado... É decidido o acontecimento final. Ponto. Estes pés não andarão mais por aquela calçada, a dos becos vazios sem searas.
Nunca foi dom de essas mãos apanharem sonhos de fascínio e nem força para isso tiveram esses braços... Apesar de serem longos suficientes para tal... Não, não, sem desculpas: o maior empecilho sempre foi a falta de desejos.
Ao mais, prefiro realmente estar no canto mais escuro deste quarto, até que os músculos perdoem e eu possa caminhar pelo meio daquela outra estrada, pelo meio do mundo sem ser afligida pela dor e desamparo destas minhas costas fracas que não protegem os órgãos de nada, nada.
Enquanto há a convalesça, ei de esperar meu próprio tempo. Desta vez, sem pressa, sem sequer uma maldita gota de anseio.
Ficarei aqui, hora agonizando, hora morta, ora farta pelos espasmos. Hora, maior se não todo o momento, ei de ser nada. Nada.
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