segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Entre as não-palavras.

TIC-TAC. (São 11:30 da manhã de sábado e meu corpo se torna àgua em frente ao meu desejo culto e a densidade paira apenas sobre as sensações)

Um fim de semana repleto de cores cruas e torradas, cores e tons saindo das tintas e das telas para a realidade,pousando em tudo que é vivo como um lençol, cobrindo os detalhes fisicos e mentais da mais doce calmaria.

TIC-TAC, o tempo dança entre o vento e estamos às dez de uma noite fresca e cinzenta com nossos vinhos à iluminar novas cores e nossas palavras soltas que compõem a mais bela harmonia, e então, após passos e mais passos e algumas boas risadas e criticas e respirações ofegantes de pura humanidade, aquele mesmo lençol que pousa sobre tudo em torno, nos envolve da mais pura e ousada sensação.

As músicas, os cheiros, os toques e os olhares formam o quadro invisível sinestésico de perfeita harmonia, impossiveis à vistas de olhos nus ou tocadas à pele crua.
Os detalhes sóbrios e alucinados de uma boa noite em que a lua fez companhia, e conversava conosco por entre as longas fumaças que subiam por entre os cabelos e então além e voltavam-me respostas perfeitas sem palavras através do vento seco que ardia levemente os olhos.
Belissimo para aqueles que puderam estar e ver além.

As palavras e as não-palavras vão além do próprio valor.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Estesia: cenas entre o jazz (título provisório)

Entre os milhões de passos um após o outro depois que o sol se pôs, a ansiedade e o nervozismo afloram sobre cada musculo e cada veia do corpo e então eu me sinto pronta.
Sim, eis então a mais bela visão: A arte em olhos de absinto (tão absintico quanto seus cabelos embreagados entre a cor estesica produzida pelas próprias idéias afloradas)
Ele pousa a respiração como num sonho sempre antes de falar, produzindo um interromper raro e suave entre as boas palavras (escolhidas a dedo) e os doces tons da sua voz plena e tranquila.
A escuridão se torna o vazio e então somos só nós entre a deleitosa fumaça cinzenta que forma um quadro e então uma bela visão diante dos meus olhos.
Olhos profundos, gritantes e alucinados transpassando multiplas sensações do que há por dentro e por fora, girando em torno e bailando com a fumaça e os perfumes resguardados em pequenos relicarios como lembrança as idéias produzidas.
Os olhos limpidos e misteriosos que me persseguem atras de uma garrafa e um cigarro e outro numa sensação ébria de dentro para fora e então contrário.
A musica tem um sabor ainda mais inebriado e as palavras recitam-se por si mesma e criam vida com ainda mais valentia.
Saboreando entre os dedos e os lábios o significado da palavras estesia (entre o perfume espesso que surgia após cada descoberta senti-Mental.)

Com a luz do alvorecer, novas sensações se espalham no ar penetrando em cada póro e então em cada célula do corpo (até então) farto.
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ps: (Eis o valor do silêncio) =)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Questões eternas (e internas).

Os labios secos como manhã sozinha de inverno trazia a longa sensação do seu desejo de dizer algo impossivel de traduzir em palavras (relez) naquele momento.
'Como não posso despencar ao olhar pra voce?' ele diz, 'seus olhos são o meu abismo e eu quero que volte para minha estrada', atordoado como uma folha solta no vento por dias secos e gelados daquele tempo sem sentimento.
O que mais aquela boca imóvel poderia soltar em meio o pavor sutil que suas mãos esgueiravam com cuidado?
Eu jamais perderia-o da minha vista se não fosse aquela longa distancia profunda de milhas e milhas de tempo nos trens e nos trilhos cintilantes da iris dos seus olhos agudos e infindos mente à dentro, o que posso dizer e onde poderei me achar depois de tudo isso?
As interrogações surgiam entre os fios de cabelo e penetravam vagando mente adentro e à fora, dançando como garotas alucinadas e seus copos de gim (aquelas que lhes deixam sutis recados convidativos e subentendidos na porta de sua morada)

'Eu não posso', ecoava... eu não entendo.

Qual dos dois lados prolongaria o sofrimento?

domingo, 4 de outubro de 2009

A dor pulsiva e oca de acordar (por maior ou menor que seja o sonho)

Lamentações perdidas nas longas estradas serpentinas e nos sete céus decorados com guizos zombeteiros e sua mãe, grande sarcástica lua, rainha dos romanticos fiéis crédulos em sua luz devota e apaixonada, guardando em cada cratera uma doce maldade e os segredos e as estórias de amores perdidos e amantes mortos e peitos feito caixas, caixões guardando corações defuntos inalteráveis (até a proxima chaminha vermelha).
E entre a cena, meu corpo estirado num canto qualquer desta grande visão, pequeno, cego e oco, pequeno pedaço de célula de um pequeno grão jogado ao marasmo vazio do infinito perdido, desencontrado até sobre si mesmo.
A solidão brotando em cada maldita pedra, em cada respiração inalada, em cada fio do corpo.

Martelando no peito lamúrias de amores mau compreendidos e desfeitos em 'piscares de olhos' e com o poder das mãos e 'click', pronto, o 'BOOM' está feito, como se sentimentos fossem visíveis e palpaveis, capazes de ser arrancados com força e fôlego do peito com empurrões, chutes e pontapés, ou (em casos de amores vazios) com estalar de dedos, 'TAC' e theend.

Mas no fim, tudo dói.
(Como uma facada grosseira e oca no pleno escuro).

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Descoberta de uma viagem (adentro)

Em seios cálidos guardados adentro à muitas e muitas chaves de distância, ebebedei-me do mais velho sangue doce, (produzido como vinho, conforme envelhece...) e apreciei a vista acima do monte, acima da pele que já resplandecia o que havia um pouco mais acima: O céu escuro feito pez negra dando fundo à constelações magnificas de estrelas que se penduravam em linhas cegas, reluzindo seu brio em meus olhos e em todo resto que lhes era visivel.
Meu rosto parecia mais palpavel, e, por ora, real.
Minhas expressões faziam sentido e o liquido rubro saido das artérias do inconsciente parecia manifesto.
Eu soube, dali em diante qual (a principio) o resquicio detalhe da alma da vida, e sem ele mal respiro.

E quando a inspiração (as estrelas) apagam e deitam, sossegam e dormem, como que quase morressem, me sinto a beira da morte com cada uma delas.

Eis então o meu precipicio: A beira de todo meu bem e de todo o meu mal.

Diáfano mental (Alegoria da dança de um belo Homem)

Calças justas exibindo os ossos de suas pernas e joelhos grosseiramente delicados e cabelos esvoaçados, ele procura por uma pequena picada...
Uma pequena dose das sensações mais quentes que se pode sentir no lugar mais quente que se pode ter. Curtas luzes verdes de desejo no fundo de cada iris ressequida pelo velho e conecido (nosso) desgosto....
Seria então um belo fim sair por aquela porta, solene com seus fantasmas silenciosos e rastejantes, com algo a mais em sua consciencia (e em seu corpo). Ele sabe realmente o que fazer sobre isso:
Vem flutuando com sua sombra, da porta até o meio do corredor, com rosto doce e anjos expostos como numa grande coleção em seu museu diáfano, e então c a m b a l e i a até mim 'baby', e ... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh.
Cega meus olhos com seu sorriso bastardo e seus gritos me mutilam.
Pedaço à pedaço.
Densos de espirito.

Suas pernas diante de mim, trançadas induzem a outros significados distintos.

(Alegoria da dança de um belo Homem).

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A seca.

Que não me escorra em forma de sangue a dor da flecha nas entranhas, solta pelo arco. Se(quer) tente! Mas meu corpo ressequido e descarnado não flui nem mais uma gota de qualquer que seja liquido vital.Toa infertildade: solo magro.
E que não me queime viva essa chama da sua esperança vívida que não quer abandonar.Por que eu...
...Eu não quero mais doer por sofrimentos ou crenças vis. O mundo àrido já secou a minha fé e partiu minha pele em rachaduras claras de uma nova expressão.
Eu não sinto dor mais...

... Não mais.


Essas cicatrizes já são sulficientes, e com ela, a dor, eu não tenho mais nada à aprender.
Olhos secos feito pedregulhos quentes do deserto.
Convicta.
Mas sem ar.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

À Procura do infatigável:Eu.

Passei esta alvorada com o corpo deitado logo abaixo da janela do quarto limpo. O fulgor da lua repousava sob a pele penetrando nos poros, umedeciam os músculos e tocavam os ossos, fazendo-os cintilar. A íris oculta sob as pálpebras sequer movimentavam-se, mas era capaz de sentir a boca secando como deserto e o ouvido aguçado ouvia cada pequeno passo desta doce terra.
Havia eu, entrado no meu campo sombrio, o sigilo da mente... O quarto ébano cego que as pessoas sabem que não se deve pisar. Meu corpo- quero dizer, a parte externa dele- tiritava à sombra do pavor e da solidão, e eu era capaz de senti-lo sofrer pelo estado interno de transe; Ele esfriava mais e mais.
Eu, em distancia vagando vivaz, entre as maiores obras impenetráveis contorcia idéias à procura da chave ou da formula misteriosa para livrar a insanidade enclausurada que pendia numa corrente luminosa.
O consciente, fraco e esquelético gemia em todos os cantos e eu não era mais capaz de ouvi-lo lastimar. Hora gritava em revolto, quando conseguia; De certa forma, ainda sim ela iluminava o espaço, quando se sentia suficiente. Berrava e lamentava o vazio que eu construira em torno de tudo que houvera.
Mas antes que pudesse o céu lá fora tornar-se escarlate, eu voltava. Algo me evocava ferozmente antes que fosse tarde!
Amanhecia lentamente e o quarto desfrutava de uma cor doce, um rubro voraz e audacioso, enquanto eu, vagarosamente abrir os olhos.
Bem a tempo, antes que a coisa me tomasse em todo, e ali eu me perdesse... Antes que a loucura plena me tomasse. Mas não! Não antes de me salvar do tão amado e viciante delírio que me consome.
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PS: Texto de 2007.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Da fada.

."Gole à gole nos inteirávamos, como se cada trago medonho fosse para a alma um punhal dilacerador que nos desfazia por inteiros, e, em seguida, retalho a retalho costurava um ao outro, com seu barulho agudo de metal passando carne e ossos sem regimento ou resquício de piedade, com o mais delicado fio de vida.
E, no alvo, junto à nós, formou-se um elo e tambem foi alfinetada a anestesia e delirio de toda a bebedeira. Ela pulsava em nós mais ainda do que a nós mesmos.. Ela tomou conta de tudo e 'Bang' nos possuiu completamente como um tiro certeiro. A vida correu e correu desesperadamente por cada musculo atrelada à todo àlcool e àquela cerimonia solene de união que fincamos e atamos com nossas proprias veias.Mal houve tempo de me sentir apunhalada ou sequer afoita com os acontecimentos sortidos que embaralhavam as sensações e produziam seguidos nós enormes de marinheiro na garganta. Eis a loucura. Insolente: transpassou o elo da nossa existência e tornou-nos um ser sonhador. Assustador. Poeticamente assustador.

Efervecentes devaneios traspostos à embriaguez."

domingo, 23 de agosto de 2009

Um tempo seco na cidade.



O pavor do corpo aberto bem no centro da metrópole:
Mostrar-se puro à tudo e sufoca à pânico, entontesse à pélago.
Os olhos cegos arregalam às tentativas de ver o fato, o algo, e a curiosidade no entanto lhe rasga a pele,
Tão e tão forte que abre a carne, apaga o rastro da respiração,
o ultimo registro de vida, um momento sobrio de mutilação entre a fumaça das grandes latarias, o grande monte de cimento entulhado e amontoando pessoas descabidas que não se acomodam em lugar nenhum. (Onde estão meus sentimentos? perdi no trânsito, ou na viela, ou quem sabe ficou sobre a mesa fria de mármore no escritorio?)
Ofegante nos destroços de um velho moinho, um recanto para a velha sina,

'De que me servem os pulmões se agora eles não me adiantam em nada?'

Respirar: Inspire, expire. Vamos! é uma questão de SUB-vivência! (Ou respirar agora seria o contrario e então, aí fela-se o perigo?)

...
São tantos nadas à declarar no centro desta grande massa de vazio concretoso de negras con-ten-taçoes.


Mas nem o tom negro desta cidade (ou do meu cigarro) é capaz de oprimir o brilho rosa púrpura de um nascer de sol. (A I N D A).

Lembranças macias de maçã (em ironia ao pecado)

O gosto suavemente amargo da casca lisa daquela maçã, me reçoava como uma lembrança límpida daquela manhã adoravelmente chuvosa de pleno inverno:


Como insensível à todo o resto, passeávamos de um lado à outro do quarto, com nada nos corpos ou ao máximo uma camiseta cumprida para cobrir o necessário (porque haveria de ser necessário cobrir-se?), com nossos cigarros e copos pequenos e largos de alcool perfumado latente e nossas bocas cheias de falas inspiradas e saliva, saliva trocada e a própria saliva por todos os cantos da boca misturando-se naturalmente ao gosto dos cigarros e da bebida do outro.
A junção foi forte e perene.Nos sentíamos altamente confortáveis em nossa carne, O sulficiente para me deixar estasiada e tagarelante, acoando-me em cada canto daquele doce quarto, me atordoando da melhor forma de tudo que via. Ele, ao mais tardar, tipico de suas ações, preferia comemorar o acontecimento em si mesmo, e revelar-me os sentidos apenas pela janela dos olhos (daonde saia a grande luz- fonte mágica do pós acontecimento). Intacto, como uma bela fotografia charmosa de 70, encostado na pequena mesinha pregada à parede, tórax magro e bem demarcado por exercícios e cansaço, aliviavam-se às custas de vários suspiros seguidos com seus cigarros (acesos um após outro, rapidamente com a própria brasa do anterior) e seu whisky barato que era absurdamente belo e combinava com o tom da pele arrepiada que mostrava demasiado agrado por estar ali, admirando-me.

Ao engolir o pedaço macio daquela maçã, apreciei os fatos como se não houvessem havido fim, e agraciei-me com um velho sorriso vermelho, já conhecido, lá no fundo da àgua dos olhos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Os velhos clichês da auto-ajuda (AUTO-sulficiencia)

É arrogante sentir, mas não sou eu quem comanda agora... Os sentimentos vão muito além de ilusões produzidas por umas maquina controlável.
Depois de certo tempo, já nem se sente mais! ‘Certo tempo’, significa pouco, ‘muito pouco tempo’, na minha língua. É de costume meu ser mutável.
Certas paixões distraídas se esvaem como poeira, diante dos olhos. Até que se chega ao ponto Maximo do próprio encontro e se pergunta: e é disso mesmo que a vida é feita então? Não, não é.
Eu não posso me equilibrar tanto assim sobre meus pés. Mas quer saber? Aos pés de ninguém sou assim tão segura como a ilusão teima em criar.
Sou só, no fim sempre fui e sempre serei. A nova etapa é exilar-me de qualquer castigo e perceber, com meus próprios olhos que a solidão não é ruim. E não é: a solidão é feita de soberba. Bons e felizes são os homens que REALMENTE aprendem e admiram o fato de que na vida é o velho ‘cada um por si’, apreendendo acima de tudo e de todos, em si mesmo.
Respire:
Inspire..............expire.
Eu me aceito assim mesmo e vejo que eis a hora de re, re, re, re, re e recomeçar.
Velhos clichês que nunca se aprende tão facilmente.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Inconstância da alma magra.

Um mundo imenso e alma fosca,
minuscula jogada aos pés da velha forca
maltratada em gelo e baldes de sentimento sem forma
com um andar poço e manco como a coisa que deforma
um passo lerdo e peso, atrás do outro que mal toca
de um lado a fraqueza da alma frouxa,
do outro, o ódio enfoca.



-(Uma tentativa de poema, depois uns bons anos)
só pra me descontrair.

Com delírio,

Na lama profunda daqueles olhos despedaçados, eu, primeiramente, como todo narcisista, me reparei. Dentro deles proprios, encarei a fundo os meus proprios olhos antes de tomar coragem de ver os dele puramente. E então, percebi enaltecer no largo profundo a sensação altiva de delírio imenso, submersa à todas as qualidades de loucura que a alma humana é capaz de aflorar, criar sem medo raízes e ligações infinitas entre a realidade e a ilusão.
Mas há certo perigo: A ilusão é uma mulher belíssima, tem vida e comanda a si mesma como um ser manifesto em carne, em carne podre. Ela rasteja entre nossos pés com serpente, não! como verme e vai subindo, ajoelha-se tomando conta de tudo que lhe é visível e cada vez mais e quando se levanta, com a planta dos pés no chão, é o fim e não há como correr. O abraço da ilusão é eterno se não for esperto. Um simples contato torna pancada e ela penetra no canto mais secreto da mente que se pode imaginar, lugares onde nem você mesmo permeou sequer uma maldita vez naqueles dias mais cheios de toxinas para diversão, toma conta de todo o resto e então você é só mais um grão de poeira nas linhas da palma de sua mão pálida.
Quando percebi-me delirando tanto, algo me gritou e as sensações tornavam-me ao inverso até que então me vi refletida, novamente, nos puros olhos castanhos daquele doce garoto quieto.
Isso, caro leitor, foi o primeiro espasmo do amor.

Mais um desabafo silêncioso sem muitas impressões.

(...) Essencialmente ao mesmo tempo depois de alguns meses gaoroósos,TUDO, se tornou individualmente mais...profundo. As vezes eu me cubro da mais negra seda e me esqueço da vida calorosa que somos capazes de levar e conservar. De todas as garotas divertidas com quem ja convivi, dos amigos soltos como bichas nas ruas de boas madrugadas e de qualquer comprimento, aqui e ali.Dos garotos me oferecendo bons fins de tarde encharcados de cerveja e assuntos insignificantes, da atenção que dávamos às pessoas, uma após outra, desfilando suas riquesas e pobresas individuais, ' o que estaria por tras daqueles olhos arrogantes de pessoas apressadas no centro da metrópole?' . Das canções em grupo.Sim, até mesmo de amores eu já me esqueci. Me oculto pra fugir de algo e me expor para um outro que já me apavorou ainda muito mais que essas multidões tocáveis. Eu me tranco. A velha história da Esthesia presa numa garrafa aqui dentro, não é mera ilusão. Pra quem convive com isso dia após dia, torna-se até palpável.Hoje, sinceramente, essa coisinha não me apavora mais..na verdade, até que me agrada.
Tão palpável que entrei em mim mesma, tomei a garrafa do seu fardo esconderijo e a abri com certa violência. E desde então eu não vivo sem ela e suas questões silenciosas de auto-conformismo e loucura. Eu não vivo mais sem esse meu lado, que, por anos, procurei fugir, esconder-me como um bichinho indefezo sem mãe. Hoje, é dessa companhia que mais me agrado. Ela, falando dentro da mente, quase que incessantemente até minha ultima letra.Confesso: interrompe à fio meus dias; Presa em mim, quase não sou capaz de integrar-me a ninguém. Quase não me dilacero mais entre as pessoas pra dar-lhes algo de mim (e é só disso que sinto falta).
Ela está tomando uma parte cada vez maior. Essa coisa ainda vai me engolir por inteiro, de uma vez só.Uma maldita bocanhada, 'nhac' e é acabou.
Motejador: Como Burroughs e seus ânus poéticamente famintos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um sorriso por toda a tarde.

"Escapa entre os lábios o sorriso deleite em brilhos olhos. Ah, aqueles belos olhos sorteados e envoltos num segredo delinquente, um mistério embriagado, e ainda mais louco, que caminha, e caminha... Vaga e devaga por entre toda a face fazendo escurecer as linhas expressivas do canto da boca... fazendo-as soltarem a gritos os seus mais caidos silêncios. O espirito alucinado todo, resguardado em culto cesso. O mistério do sossego."

domingo, 19 de julho de 2009

Café e conversas agradáveis,



Tudo que preciso.

Desabafos íntimos sobre meses macilentos.

Eu não gosto da maneira como você descuida do cabelo, eu não gosto das suas roupas e da forma como se barbeia...
Eu percebi que olho nos seus olhos claros e eles parecem esfumaçados por uma resistência e proteção à sinceridade...
Eu não gosto das mentiras... você sabe bem disso, uma coisa que eu sou é sincera...
E reciprocidade é uma excelência.
Eu não gosto das suas conversas sobre filmes de super-heróis e dos seus jogos de vídeo-game...Eu posso até me divertir as vezes, mas pela minha expressão você sabe, eu me encanto por conversas mais... mais... mais encantadas e mais longínquas, e até mais criativas que as falam de resident evil.
E entenda, assim como eu estou entendo, que apesar de eu adorar a sua companhia, e derreter-me na tua boca, eu não sou tão sua assim...na verdade, nem um pouco.
E o melhor é que eu destrinchei e descobri a raiz desse meu sentimento por ti: desejo e desafio..
Convenhamos, eu nem gosto tanto assim..não tem haver com amor..
Sequer tem haver com paixão..
É puro gosto por desafios, assim, sem querer, de conquistar-te e ter-te, possuir-te e só... Provavelmente o jogaria fora depois disso, ( aposto, sinceramente até minhas saias, de que você faria o mesmo)

A nossa desimportância, meu bem, no fim dessas contas, é recíproca.
O primeiro copo na beira do asfalto alarma o inicio da noite. Ele, anunciando a primeira gota ao desvio, prepara a saliva e equilibra-se com garrafas no meio fio, dançando por entre as pedras e copos, jogando o liquido em cada um deles, jorrando à litros pelos espaços.
Os cabelos ondulados confrontando com a cor da noite... Os olhos disputando atenção com as estrelas.

O bom rapaz de uma doce cidade, quase vilarejo, perto de montanhas onde brotavam flores de todas as espécies e cores, nos dias primaveris... E reproduzia cores levemente agridoces no outono, vistas facilmente de todas as janelas.
Fez de um pequeno pacote, mala. E sua entrada para qualquer mundo eram algumas notas, cigarros cheirosos e licores da antiga cidade. Para bastar-se ali, transformando a beira da auto-estrada em celebração, tirou a gaita do bolso da jaqueta escura. Bastava-se por completo; nada mais havia de necessário, assim como nada mais havia de abatê-lo.

As notas ecoando pelo velho caminho, seguindo soltas pelo infinito acima e abaixo, e até o ultimo vestígio de estrada.
Acompanha-lhe a poeira erguida pelos carros imundos, as estrelas que brincam de disputar beleza com seus olhos.


Esta era uma belíssima noite para vadiar.

Soberbas noites de verão.

O cheiro de boa comida dançava até fora das janelas, e pude senti-lo quando estacionava a bicicleta diante da primeira floreira. “Ah sim, já estou em casa” pensei, não apenas física, mas além dos detalhes, espiritualmente... Não poderia estar em outro lugar... Não haveria no mundo, espaço melhor para acomodar o corpo e a alma.
Ouvia a música tranqüila [minha favorita neste estilo] desde a entrada. Descalcei-me, coloquei os sapatos confortáveis no assoalho e senti o chão limpo refrescar meus pés. Pessoalmente, o momento preferido do dia.
O gato roçou-se em minhas canelas, e olhou-me nos olhos, crente que ganharia o colo. Peguei-o e fui até a varanda, apresentar-me a vista do dia: Noite de calor, com leve brisa, trazendo o perfume das jardineiras até a face, sem esforço, enaltecendo a noite com farto prazer. A sala, de luz apagada e velas simples postas ao meio da mesa, convidavam-me a sentar; nestes dias, aquelas cadeiras parecem-me ainda mais confortáveis.
Olhos disputando beleza com as estrelas serviram-me fartamente a mais perfumada refeição, até então, da minha vida. Provei com gloria, daquela noite particularmente agradável, embriaguei-me de verão, de doçura e prazer. Ganhei um beijo fresco antes do banho, e depois dele, quem sabe; ainda mais profundamente aproveitei-me.
Estas soberbas noites acaloradas de verão.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Definha os musculos magros descolando-se um por um do esqueleto espesso.
Procura pela poeira... é tarde: hora de comer.
Ela rasteja, vagarosamente, não por desejo, mas por impotência. Eis então o motivo do seu desespero: movimentar-se com mais perspicácia é de que depende a sua vida.

Granhidos e gemidos ralos e arranhados, forçados pelo desespero do ronrronar sonso e cruel do próprio estomago.

Dilata e te lateja os olhos.

" O monstro que há por dentro, o ser que dói aqui no meio."

Hora espasmo, hora dor.
Contando mentalmente os chutes pungentes das pernas cartilagenosas no meio da barriga, à alcançar por dentro o intestino.
Abre a boca e solta a pasta verde que lhe seca a garganta, passa a lingua viscosa pelo chão lixante caçando alguma grama de poeira que lhe possa cobrir de leve o estômago. Poeira não há, nada. N A D A.

A pele descascada não serve para protejer-lhe, sequer respira agora.
Seca, sem o liquido dos insetos nas entranhas ou nos fios e poucos pelos. Tão necessários.

Agonizar e lamentar a própria existência.
Ter pena de si próprio é o primeiro passo para aquele... o pior de todos os fins.

Eis a dor pungente de estar definhando só, até a queda da ultima ruína.
O peso morto,

O peso solo,

O passo farto,

A carne morta,

O corpo ralo,

A estirpe podre naquela terra fraudulenta
O assoalho em pedra, escavado à pás lentas.

Morto solo no meu quarto...

Moribunda a resta vida
Torturada pela enguia rapida que salta nas costas, de porão em porão da coisa inerte.

A coisa...
A coisa...

A coisa abre a boca profunda do estômago raso em pó e aço
em puro e osso
e alça o arpão, que vem do ventre e rasga o aço, queima o pó e cheira o raso.

Cheira o raso e eis a fome.

Surge em cola e poço, eis, fome:
o desejo inutil de consumir novamente o teu desgosto.

Engolir o teu esforço
Cuspir à toa a tua fraquesa.

Me venha à tona,
e queime a outra.

Aquele resto esquecedisso que te falta

que te mata

que te sola.

Ah, solidão...

A S O L I D Ã O.

A solidão.

domingo, 12 de julho de 2009




Solidão




...

A espera.

Acima das gotas que eu permiti cair em meu mundo, moinhos brotam raios de ar claro, feito luz incandescente, limpando os olhos daquele pó amarelado que as borboletas soltam de suas minúsculas patinhas. Os olhos, minuciosamente arquitetado das borboletas me absorvem, vendo-me andar de um lado a outro da sala fria, com nada entre as mãos. Elas me comovem com tal solidariedade. Ou, ao menos, elas se tornam seres comovidos com a amarga angustia que brota entre os meus seios. As goteiras mancham o teto e o chão de sanguínea antiga, o chão de madeira seca escura e velha, fétida por cupins.
Ainda mais fétido, os meus cabelos pouco lavados a muito tempo, de longos e curtos fios desmodelados, que caem por todos os lados e grudam no chão quando se juntam à sanguínea.
Malditos filtros jogados no tapete-cinzeiro, ao canto, perto da janela [macete comum neste ambiente pouco hospitaleiro, muito útil e nada convencional]. Janela, que chamo de lar.
Abro-a calmamente (pois me agrada o rangido fundido com o som dos vidros rachados, rasgando lentamente o silencio, caindo feito pedra ao meio do eco), observo seu metal de segunda linha pintado a duas mãos de branco pela antiga moradora, para cobrir aquele terrível cinza enferrujado que ficara marcado depois de tantas chuvas. Na verdade, me agrada a ferrugem daquelas janelas: guardam certas histórias de certas aventuras por que ela passara.
Ponho as mãos nos apoios, apoio os pés na base. Ferro gelado, ainda mais porque é inverno... Faz um frio rigoroso por aqui no fim da tarde e por toda a madrugada.
Sento-me à base, ponho os pés para fora, fazendo-os balançar como pêndulos que batem nas paredes externas até ficarem arranhados pelo ignorante muro mal lixado (ou seria eu?).
Jogo os cabelos para traz das costas, para que não me tampe a visão. Olho com graça a agitação absurdamente melancólica, abaixo dos meus pés; Por alguns momentos, eu não faço parte desta cidade... Estou degraus acima dela. Talvez seja a única coisa que me dê uma sensação efetivamente altiva.
Pensar ou não pensar é bem mais fácil aqui, sem o peso da gravidade ou das situações.

Tornozelos e joelhos arroxeados pela friagem.
Esta janela me guarda segredos e prestígios.
O canto mais aconchegante e, até, o mais válido dos cantos.

Braços inválidos de tanto frio...
Ahhhh,Meu lar.

Eis que, de repente, um exalto: Barulho rápido de chaves na maçaneta, batida de pé na porta e ela se abre: chegara!
A quem eu, minutos antes, atravessava a sala curta mergulhada em aflição.
Chegara, com suas botas pretas e seu longo e velho casaco.
Leva-se à cozinha e serve-se de uma boa caneca de café. Coloca-a em cima do banco, tira o maço de cigarros novos do bolso, pega o primeiro, cheira-o e guarda-o novamente, virado para cima.
- Sabe o que dizem: o primeiro é o cigarro da sorte. Deve ser fumado por ultimo.
Ele disse com ares de escárnio... Como se ainda ocupássemos nossa mente de alguma fé ou esperança, mesmo que ridiculamente colhidas de um maço de cigarros.
Pega sua preciosa servida da manhã e aproximasse da minha janela, onde o vento pode alcançar-lhe o rosto. Ele apóia os cotovelos, e repousa uma das suas mãos cadavéricas e descoradas (aquela com o cigarro)... Um tipo garoto macilento. Ele adora fazer isso e admirar o fumo espesso se destacar com a cor da minha pele arroxeada.
Uma mariposa sem cor, esquelética pousa em sua mão
-Não sei como elas sobrevivem nesse tempo.
Ele sorri, fracamente... Talvez não tenha mais forças mesmo para movimentar os malditos músculos do rosto. Por isso derrotamos os nossos corpos durante as madrugadas.
Olhares deturpados. Ele para o mogno, eu, para o horizonte.
Um leve tapa compreensivo nas pernas. Bem, eu já sabia o que significara. Minha parte favorita dos domingos: Deu-me a mão para descer ao quarto, levou-me ao colchão instalado ao meio. Ligou o rádio e encheu-nos de cobertas.
Uma cena agradável: Nós, uma boa garrafa de vinho barato, nosso novo maço de cigarros, e a cor azul pálida do frio transferindo cores inebriantes que se dispunham por todo o quarto.
Ele se tornara azulado pela luz nas janelas. Os olhos entreabertos trocam afagos durante as conversas e as musicas que cantamos solenemente.
A fumaça decora o quarto durante todo o tempo, e eu o abraçava com todo o calor que ainda restava nos braços.
Dopantes.
Transformei num verdadeiro longa-metragem em minha mente, com cenas tocantes e musica de fundo. Até doces fotos de pôsteres velhos.

Mal podíamos pensar em ter que descer novamente para comprar outro maço.

sábado, 27 de junho de 2009

As horas passam como vento entre minhas mãos frias. O corpo com contrações e reflexos está encolhido como um filhote sem mãe, no canto esquerdo, onde bate menos luz. Não, a imagem não é pobre, sequer degenerativa... Não neste momento.
Os pensamentos e as imagens translúcidas na mente passam curtas filmagens de uma vida que não mais lhe pertence... Ai, que alívio.
As pernas protestam! O que não há de ser protestado... É decidido o acontecimento final. Ponto. Estes pés não andarão mais por aquela calçada, a dos becos vazios sem searas.
Nunca foi dom de essas mãos apanharem sonhos de fascínio e nem força para isso tiveram esses braços... Apesar de serem longos suficientes para tal... Não, não, sem desculpas: o maior empecilho sempre foi a falta de desejos.
Ao mais, prefiro realmente estar no canto mais escuro deste quarto, até que os músculos perdoem e eu possa caminhar pelo meio daquela outra estrada, pelo meio do mundo sem ser afligida pela dor e desamparo destas minhas costas fracas que não protegem os órgãos de nada, nada.
Enquanto há a convalesça, ei de esperar meu próprio tempo. Desta vez, sem pressa, sem sequer uma maldita gota de anseio.
Ficarei aqui, hora agonizando, hora morta, ora farta pelos espasmos. Hora, maior se não todo o momento, ei de ser nada. Nada.

sexta-feira, 19 de junho de 2009



Pastel seco e carvão sobre papel
tamanho: A3

quinta-feira, 18 de junho de 2009



sem nome - Pastel seco e pastel oleoso sobre papel...

Mais um dos meus desenhos....

Surpreendida pela paz que o breu pode causar.
A boa solidão, a doce solidão, não mata.
O silêncio quebrado pelo som do cigarro tornando cinza enquanto trago.
Nem sequer o vento ousa interferir à tal soberba.
Silêncio bruto, sossegado e forte..
A minha intensidade inclinada às liberdades de uma noite cega.
Não á limite visível que me estanque.

E que não me ouse estancar!


... não há existência na escuridão, assim como não há a dor de não ser.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Por que pulsa?
Dentro de mim, assíduo.... penso e lá está voce, pulsando.
Durmo, acordo, sento, descanço, juro, perjuro, rasgo, desvaleço.. e lá está você, martelando peito à dentro, sem pausa.
Não é provavel... tem vida própria dentro de mim e eu nada posso fazer a não ser aceitar-te aí, com som grave e surdo constantemente!
e como se não bastasse o ruído que me faz, ainda tenho que aceitar ser apunhalado pelo que não devia ser.. deveria ser o contrario!
Coração não apunha-la, mas é apunhalado!
Para mais: me faz doer.
Não são os outros que te rasgam, mas a si próprio faz para rir! me trai assim, dentro do MEU próprio corpo... como tem coragem?
Me dilacera dentro, e do que sou capaz para escapar da tua insolência?
Bate à pélago...
Range aqui, e diverte-se em mim. Sofre por me querer ver sofrer...
me faz doer, me faz doer, me faz doer....

doer...

Ninho de lagartas.

Cheiro forte de láudano nas cobertas e nas almofadas... é por isso que acorda.
Abre os olhos, e entre vertigens encontra a face esgotada do tingido e velho homem que agoniza, na verdade, dentro de si mesma. A alucinação de um ser exterior lhe causa náuseas e uma terrivel insonia.
Por que bate tanto esta maldita janela? madeira com madeira, pungentes relinxando... parecem fazer de proposito para atrodoar-me a enxaqueca.
A esta dor de cabeça... as estrelas entram no quarto como guisos, mas são incapazes de iluminar mesmo que apenas uma fresta daquele quarto sombrio.
O corpo não é mais tão altivo, nem os cigarros parecem gosto elegante.O café amarga e o corpo dele ao lado é repugnante.
Até mesmo o som fatigado e rouco da própria respiração lhe farta, lhe cansa.

Ninho de lagartas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O alimento nu sobre mesa ainda geme... Treme constante a angustia da falta do meu ao lado do seu...
O corpo úmido e gasto transparece a beleza dos olhos, dos fios de cabelo e das partes naturalmente moldadas... O tórax desenhado, a entrada do ventre... As entradas das coxas. Os músculos contraídos pedindo descanso, a mente exacerbada clamando mais um gole do que antes lhe entreguei. Os olhos não mentem, por mais dissimulados que lhe pareçam, demonstram cada vontade dos seus caminhos permeáveis.
Um cigarro aceso descansando ao lado das pernas, as nádegas formadas, cobertas por um deleite da mão esquerda, propositalmente decaída um pouco a frente dos lençóis frios, insinuando a minha frágil ausência na cama, além do tempo necessário.
A boca seca sussurra débil e ardentemente:
“Retour”.

Entra pela janela o sublime frio daquela cidade.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Garota bacante.

Ele doa seu coração como se importasse mais a vida dela do que a própria respiração. Os olhos amargos dele lacrimejam “eu não tenho nada a perder, além de você”, e ela sorri, com aquele batom vermelho escuro borrado nos lábios, e ele repara que o whisky cai um pouco no seu colo enquanto ela se balança. Os cabelos impecavelmente perfeitos dela não combinam com o local, com os gemidos e com a cerimônia... Eles estão no sonho errado. Ela não usa mais o vestido negro, e está nua no sofá, com seus velhos amigos de bar. “Vem dançar” ela grita escandalosa, sem temer o transtorno que isso causa aos caras cool, que estão previamente de ressaca, no longo corredor. As músicas soam na mente dela assim como pássaros sobrevoam a casa, e ela enlouquece. É a mulher mais ensandecida que já vi... Parece-me com aqueles quadros das bacantes com seus vinho e suas luxurias. É só disso que ela precisa pra viver: pecado. Aqueles pecados banais, mais belos e originais, feito dos prazeres e da paz carnal. Ela exibe poder sobre si mesma e isso encanta os outros; ela é mais de si mesma do que se pode ter. Meus olhos seguem seus pés, os movimentos acentuados das mãos com seu cigarro, que espalha fumaça pelo cômodo. Ela é linda e ninguém apaga seu esplendor. Sozinha, dançando e sorrindo, ela vira seus olhos e me vê, maliciosa, e sabe que ali há mais do que ela é capaz. Talvez tenha sido isso que nos uniu, o confronto. seu delírio. Baco.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Dois corpos tranqüilos estão deitados no vasto campo, com os olhos para cima:

-O que vê?
-A eternidade! Ela brilha em cada estrela, aprofunda os cosmos, constela constantemente para ver-te sorrir, não vê?

Ele sorri, e os olhos se transformam em duas pequenas estrelas castanhas.

-Dou-lhe as estrelas, a lua e o que mais desejar pra ver outros destes teus sorrisos infinitos... o universo que te contempla, sempre tem esta incrível façanha: consola como ninguém... Neste céu longo e profundo que habitamos, nos faz sentir pequenos e distantes, sozinhos e vazios, mas ainda sim, consola. É como perceber a própria grandeza só olhando e imaginando o resto do universo!

Ele era capaz de sentir-se céu.

-O campo em que estamos? A terra. Entranhando tua glória até as raízes. Teu cabelo aflora, teus braços e pernas têm raízes tão intermináveis que quando anada, e nem as percebe... Mas se soubesses como são enormes e densas, e qual o ponto que te ligam à esta bela terra...aaahhhh, nunca saberíamos...

Ele abriu os braços e sentiu-se imenso, com o céu a lhe completar.

-Mas... Mesmo quando o céu não for imenso suficiente para te fazer voar, ou o campo tão profundo para finca-lhe à terra, e mesmo quando as estrelas não te derem mais um riso, eu estarei aqui, tão humana quanto você, pra contemplar a simplicidade.

Sem paciência para adornos.

Sem paciência para adornos. Farta-me o corpo sofrer ainda mais.
Solto as borboletas dos cabelos, as mariposas antigas dos olhos. Os meus braços abertos, transformam-se em asas! Jogo-me solta, leve, vazia de todo mundo. Das minhas pernas, lagartos de belas escamas luzentes, traçando longos caminhos, transpondo o tempo. Não há tanto medo do juramento ou do perjúrio, assim como não há mais chão suficiente para meus passos... resta-me, em meio o vazio imerso, uma angústia, uma alfição. O tormento de perder o que nunca se teve.
Cobiço arrancar-me o nada do peito e lacerá-lo, se, o nada palpável fosse. Arranho o corpo... Nada lastimo, a não ser a perda de não sentir nada. A dor corpórea não me causa mais reacção... ainda sim, as feições são as mesmas. Extendo-me, largo-me no buraco negro do mundo para perder as sensações vis... elas não me cabem mais.
Busco-me existência, se é que há. Uma palavra :Sentido.
Há uma insanidade ainda maior dentro do meu corpo.
Desejo estar pronta para descobri-la.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

As pipas.

Eles, sentados à relva, observavam silenciosos os seus redores. Passa-lhes pela face, o vento, mesmo que, segundos antes, acariciou a pipa alvoroçada no céu:

- Vocês podem fazer isso? – Ela indaga com doce transparência.- Viver como uma pipa?

Não, compreendendo, eles trocam olhares e não encontram clareza.

- Viver como uma pipa! Voar por todos os lados, tornar-se parte do infinito, flutuando, cortando ventos e colhendo cheiros, contemplando à vida plena, sem que nada lhe escape aos olhos ou aos sentidos, completo lá em cima. [ Há algo no mundo que comunica mais liberdade que o céu? ] Ainda sim, sabendo que há, em ti, uma linha, ainda que invisível, que lhes unem a mim, sempre [ enquanto o desejo perdure ] ?

Não entregariam a liberdade, afinal, teriam plena consciência que basta alçar-se um pouco mais adiante, que o fio esgotaria, estouraria com facilidade, pronto à suas escolhas e despedidas. Além disso, se for de gosto ficar, esta linha abrange o mundo, suficiente para uni-los à mim e à liberdade, irrefutavelmente. Vocês poderiam fazer isso?

- Eu jamais romperia o fio. – Um deles segreda.

- Contigo sou livre, e à minha vontade, completo.

Os olhos deles brilhavam, e refletiam o céu nos olhos dela. “ Você é meu infinito” .

-Somos tuas pipas.

Naquele instante, ela percebeu o quanto aqueles olhos a levavam ao céu, guiavam seus prantos.

Percebeu também ser uma pipa.

- Sim, eu também.

Os olhos, cristalizados, guardavam um céu dentro de cada um deles, e parecia ser capaz de fazê-los voar tão alto e tão longe, que envolviam-se nas nuvens, até que tornaram-se pleno céu.

Sempre contíguos.


O dobro em mim.

Há um cheiro novo trespaçando dos corpos próximos para o resto do mundo... Entre nós, dançando e vangloriando um delírio amoroso que transparece nos olhares, ( feliz eu sou, por admirar e confiar nesses tão encantados, profundos e generosos olhares).
Tudo há de manter este certo perfume; discimulado, pungente, imaculado.
E conforme o vento cresce, o perfume aumenta, os olhos escurecem e a alma incita.
Nada mais natural que desvanecer entre o paraíso dos corpos sobre a paisagem de ser ...e amar.
Ahhhh.. as formas de existir são admiráveis.

O início .

http://palegreen.spaceblog.com.br/