quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

As pipas.

Eles, sentados à relva, observavam silenciosos os seus redores. Passa-lhes pela face, o vento, mesmo que, segundos antes, acariciou a pipa alvoroçada no céu:

- Vocês podem fazer isso? – Ela indaga com doce transparência.- Viver como uma pipa?

Não, compreendendo, eles trocam olhares e não encontram clareza.

- Viver como uma pipa! Voar por todos os lados, tornar-se parte do infinito, flutuando, cortando ventos e colhendo cheiros, contemplando à vida plena, sem que nada lhe escape aos olhos ou aos sentidos, completo lá em cima. [ Há algo no mundo que comunica mais liberdade que o céu? ] Ainda sim, sabendo que há, em ti, uma linha, ainda que invisível, que lhes unem a mim, sempre [ enquanto o desejo perdure ] ?

Não entregariam a liberdade, afinal, teriam plena consciência que basta alçar-se um pouco mais adiante, que o fio esgotaria, estouraria com facilidade, pronto à suas escolhas e despedidas. Além disso, se for de gosto ficar, esta linha abrange o mundo, suficiente para uni-los à mim e à liberdade, irrefutavelmente. Vocês poderiam fazer isso?

- Eu jamais romperia o fio. – Um deles segreda.

- Contigo sou livre, e à minha vontade, completo.

Os olhos deles brilhavam, e refletiam o céu nos olhos dela. “ Você é meu infinito” .

-Somos tuas pipas.

Naquele instante, ela percebeu o quanto aqueles olhos a levavam ao céu, guiavam seus prantos.

Percebeu também ser uma pipa.

- Sim, eu também.

Os olhos, cristalizados, guardavam um céu dentro de cada um deles, e parecia ser capaz de fazê-los voar tão alto e tão longe, que envolviam-se nas nuvens, até que tornaram-se pleno céu.

Sempre contíguos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário