quinta-feira, 27 de agosto de 2009

À Procura do infatigável:Eu.

Passei esta alvorada com o corpo deitado logo abaixo da janela do quarto limpo. O fulgor da lua repousava sob a pele penetrando nos poros, umedeciam os músculos e tocavam os ossos, fazendo-os cintilar. A íris oculta sob as pálpebras sequer movimentavam-se, mas era capaz de sentir a boca secando como deserto e o ouvido aguçado ouvia cada pequeno passo desta doce terra.
Havia eu, entrado no meu campo sombrio, o sigilo da mente... O quarto ébano cego que as pessoas sabem que não se deve pisar. Meu corpo- quero dizer, a parte externa dele- tiritava à sombra do pavor e da solidão, e eu era capaz de senti-lo sofrer pelo estado interno de transe; Ele esfriava mais e mais.
Eu, em distancia vagando vivaz, entre as maiores obras impenetráveis contorcia idéias à procura da chave ou da formula misteriosa para livrar a insanidade enclausurada que pendia numa corrente luminosa.
O consciente, fraco e esquelético gemia em todos os cantos e eu não era mais capaz de ouvi-lo lastimar. Hora gritava em revolto, quando conseguia; De certa forma, ainda sim ela iluminava o espaço, quando se sentia suficiente. Berrava e lamentava o vazio que eu construira em torno de tudo que houvera.
Mas antes que pudesse o céu lá fora tornar-se escarlate, eu voltava. Algo me evocava ferozmente antes que fosse tarde!
Amanhecia lentamente e o quarto desfrutava de uma cor doce, um rubro voraz e audacioso, enquanto eu, vagarosamente abrir os olhos.
Bem a tempo, antes que a coisa me tomasse em todo, e ali eu me perdesse... Antes que a loucura plena me tomasse. Mas não! Não antes de me salvar do tão amado e viciante delírio que me consome.
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PS: Texto de 2007.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Da fada.

."Gole à gole nos inteirávamos, como se cada trago medonho fosse para a alma um punhal dilacerador que nos desfazia por inteiros, e, em seguida, retalho a retalho costurava um ao outro, com seu barulho agudo de metal passando carne e ossos sem regimento ou resquício de piedade, com o mais delicado fio de vida.
E, no alvo, junto à nós, formou-se um elo e tambem foi alfinetada a anestesia e delirio de toda a bebedeira. Ela pulsava em nós mais ainda do que a nós mesmos.. Ela tomou conta de tudo e 'Bang' nos possuiu completamente como um tiro certeiro. A vida correu e correu desesperadamente por cada musculo atrelada à todo àlcool e àquela cerimonia solene de união que fincamos e atamos com nossas proprias veias.Mal houve tempo de me sentir apunhalada ou sequer afoita com os acontecimentos sortidos que embaralhavam as sensações e produziam seguidos nós enormes de marinheiro na garganta. Eis a loucura. Insolente: transpassou o elo da nossa existência e tornou-nos um ser sonhador. Assustador. Poeticamente assustador.

Efervecentes devaneios traspostos à embriaguez."

domingo, 23 de agosto de 2009

Um tempo seco na cidade.



O pavor do corpo aberto bem no centro da metrópole:
Mostrar-se puro à tudo e sufoca à pânico, entontesse à pélago.
Os olhos cegos arregalam às tentativas de ver o fato, o algo, e a curiosidade no entanto lhe rasga a pele,
Tão e tão forte que abre a carne, apaga o rastro da respiração,
o ultimo registro de vida, um momento sobrio de mutilação entre a fumaça das grandes latarias, o grande monte de cimento entulhado e amontoando pessoas descabidas que não se acomodam em lugar nenhum. (Onde estão meus sentimentos? perdi no trânsito, ou na viela, ou quem sabe ficou sobre a mesa fria de mármore no escritorio?)
Ofegante nos destroços de um velho moinho, um recanto para a velha sina,

'De que me servem os pulmões se agora eles não me adiantam em nada?'

Respirar: Inspire, expire. Vamos! é uma questão de SUB-vivência! (Ou respirar agora seria o contrario e então, aí fela-se o perigo?)

...
São tantos nadas à declarar no centro desta grande massa de vazio concretoso de negras con-ten-taçoes.


Mas nem o tom negro desta cidade (ou do meu cigarro) é capaz de oprimir o brilho rosa púrpura de um nascer de sol. (A I N D A).

Lembranças macias de maçã (em ironia ao pecado)

O gosto suavemente amargo da casca lisa daquela maçã, me reçoava como uma lembrança límpida daquela manhã adoravelmente chuvosa de pleno inverno:


Como insensível à todo o resto, passeávamos de um lado à outro do quarto, com nada nos corpos ou ao máximo uma camiseta cumprida para cobrir o necessário (porque haveria de ser necessário cobrir-se?), com nossos cigarros e copos pequenos e largos de alcool perfumado latente e nossas bocas cheias de falas inspiradas e saliva, saliva trocada e a própria saliva por todos os cantos da boca misturando-se naturalmente ao gosto dos cigarros e da bebida do outro.
A junção foi forte e perene.Nos sentíamos altamente confortáveis em nossa carne, O sulficiente para me deixar estasiada e tagarelante, acoando-me em cada canto daquele doce quarto, me atordoando da melhor forma de tudo que via. Ele, ao mais tardar, tipico de suas ações, preferia comemorar o acontecimento em si mesmo, e revelar-me os sentidos apenas pela janela dos olhos (daonde saia a grande luz- fonte mágica do pós acontecimento). Intacto, como uma bela fotografia charmosa de 70, encostado na pequena mesinha pregada à parede, tórax magro e bem demarcado por exercícios e cansaço, aliviavam-se às custas de vários suspiros seguidos com seus cigarros (acesos um após outro, rapidamente com a própria brasa do anterior) e seu whisky barato que era absurdamente belo e combinava com o tom da pele arrepiada que mostrava demasiado agrado por estar ali, admirando-me.

Ao engolir o pedaço macio daquela maçã, apreciei os fatos como se não houvessem havido fim, e agraciei-me com um velho sorriso vermelho, já conhecido, lá no fundo da àgua dos olhos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Os velhos clichês da auto-ajuda (AUTO-sulficiencia)

É arrogante sentir, mas não sou eu quem comanda agora... Os sentimentos vão muito além de ilusões produzidas por umas maquina controlável.
Depois de certo tempo, já nem se sente mais! ‘Certo tempo’, significa pouco, ‘muito pouco tempo’, na minha língua. É de costume meu ser mutável.
Certas paixões distraídas se esvaem como poeira, diante dos olhos. Até que se chega ao ponto Maximo do próprio encontro e se pergunta: e é disso mesmo que a vida é feita então? Não, não é.
Eu não posso me equilibrar tanto assim sobre meus pés. Mas quer saber? Aos pés de ninguém sou assim tão segura como a ilusão teima em criar.
Sou só, no fim sempre fui e sempre serei. A nova etapa é exilar-me de qualquer castigo e perceber, com meus próprios olhos que a solidão não é ruim. E não é: a solidão é feita de soberba. Bons e felizes são os homens que REALMENTE aprendem e admiram o fato de que na vida é o velho ‘cada um por si’, apreendendo acima de tudo e de todos, em si mesmo.
Respire:
Inspire..............expire.
Eu me aceito assim mesmo e vejo que eis a hora de re, re, re, re, re e recomeçar.
Velhos clichês que nunca se aprende tão facilmente.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Inconstância da alma magra.

Um mundo imenso e alma fosca,
minuscula jogada aos pés da velha forca
maltratada em gelo e baldes de sentimento sem forma
com um andar poço e manco como a coisa que deforma
um passo lerdo e peso, atrás do outro que mal toca
de um lado a fraqueza da alma frouxa,
do outro, o ódio enfoca.



-(Uma tentativa de poema, depois uns bons anos)
só pra me descontrair.

Com delírio,

Na lama profunda daqueles olhos despedaçados, eu, primeiramente, como todo narcisista, me reparei. Dentro deles proprios, encarei a fundo os meus proprios olhos antes de tomar coragem de ver os dele puramente. E então, percebi enaltecer no largo profundo a sensação altiva de delírio imenso, submersa à todas as qualidades de loucura que a alma humana é capaz de aflorar, criar sem medo raízes e ligações infinitas entre a realidade e a ilusão.
Mas há certo perigo: A ilusão é uma mulher belíssima, tem vida e comanda a si mesma como um ser manifesto em carne, em carne podre. Ela rasteja entre nossos pés com serpente, não! como verme e vai subindo, ajoelha-se tomando conta de tudo que lhe é visível e cada vez mais e quando se levanta, com a planta dos pés no chão, é o fim e não há como correr. O abraço da ilusão é eterno se não for esperto. Um simples contato torna pancada e ela penetra no canto mais secreto da mente que se pode imaginar, lugares onde nem você mesmo permeou sequer uma maldita vez naqueles dias mais cheios de toxinas para diversão, toma conta de todo o resto e então você é só mais um grão de poeira nas linhas da palma de sua mão pálida.
Quando percebi-me delirando tanto, algo me gritou e as sensações tornavam-me ao inverso até que então me vi refletida, novamente, nos puros olhos castanhos daquele doce garoto quieto.
Isso, caro leitor, foi o primeiro espasmo do amor.

Mais um desabafo silêncioso sem muitas impressões.

(...) Essencialmente ao mesmo tempo depois de alguns meses gaoroósos,TUDO, se tornou individualmente mais...profundo. As vezes eu me cubro da mais negra seda e me esqueço da vida calorosa que somos capazes de levar e conservar. De todas as garotas divertidas com quem ja convivi, dos amigos soltos como bichas nas ruas de boas madrugadas e de qualquer comprimento, aqui e ali.Dos garotos me oferecendo bons fins de tarde encharcados de cerveja e assuntos insignificantes, da atenção que dávamos às pessoas, uma após outra, desfilando suas riquesas e pobresas individuais, ' o que estaria por tras daqueles olhos arrogantes de pessoas apressadas no centro da metrópole?' . Das canções em grupo.Sim, até mesmo de amores eu já me esqueci. Me oculto pra fugir de algo e me expor para um outro que já me apavorou ainda muito mais que essas multidões tocáveis. Eu me tranco. A velha história da Esthesia presa numa garrafa aqui dentro, não é mera ilusão. Pra quem convive com isso dia após dia, torna-se até palpável.Hoje, sinceramente, essa coisinha não me apavora mais..na verdade, até que me agrada.
Tão palpável que entrei em mim mesma, tomei a garrafa do seu fardo esconderijo e a abri com certa violência. E desde então eu não vivo sem ela e suas questões silenciosas de auto-conformismo e loucura. Eu não vivo mais sem esse meu lado, que, por anos, procurei fugir, esconder-me como um bichinho indefezo sem mãe. Hoje, é dessa companhia que mais me agrado. Ela, falando dentro da mente, quase que incessantemente até minha ultima letra.Confesso: interrompe à fio meus dias; Presa em mim, quase não sou capaz de integrar-me a ninguém. Quase não me dilacero mais entre as pessoas pra dar-lhes algo de mim (e é só disso que sinto falta).
Ela está tomando uma parte cada vez maior. Essa coisa ainda vai me engolir por inteiro, de uma vez só.Uma maldita bocanhada, 'nhac' e é acabou.
Motejador: Como Burroughs e seus ânus poéticamente famintos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Um sorriso por toda a tarde.

"Escapa entre os lábios o sorriso deleite em brilhos olhos. Ah, aqueles belos olhos sorteados e envoltos num segredo delinquente, um mistério embriagado, e ainda mais louco, que caminha, e caminha... Vaga e devaga por entre toda a face fazendo escurecer as linhas expressivas do canto da boca... fazendo-as soltarem a gritos os seus mais caidos silêncios. O espirito alucinado todo, resguardado em culto cesso. O mistério do sossego."