sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A menção de cultivar.

Lembra profundamente daquela tua imagem de amor?
Nós, pela manhã, sorrindo antes mesmo de acordar.
Lembrei-me do seu texto e deleitei-me sobre ele como quem se debruça sobre uma almofada de algodão quentinha, com cheiro de lar.
Sabe, nós temos agora: a cama pra dividir todas as noites, os confessos, os desabafos, as gargalhadas antes de deitar.
Eis que descobrimos então a qualidade importante de cultivar; certo dia, escreve-me que 'Vendo o Sol nascer ainda venusto,Caminharemos para casa cultivando na alma este belo arbusto'. Esta é a grande menção: C U L T I V A R.
O tempo vai passando entre nossos corpos, elevando nossos trajes como um vento forte de uma tarde, logo depois do sol descer.
Olhar pra ti todas as manhãs e, de passar as minhas mãos sobre os teus braços, você sorri, sem sequer ter-se voltado a alma ao corpo, como a rosa de orvalho tocando a minha epele, do seu texto.
Isto é valorizar os encantos que pularam para a realidade, como um momento cinematográfico intocável.
Sim, nós nos tornamos mais reais. Agora, também corremos atrás da vida, corrida. Agora, também nos desesperamos, por hora, pelas voltas que o mundo dará. Agora nos destraímos com a questões enigmáticas que a vida dá.
Mas isso, meu bem, nos torna ainda mais fortes, mas decididos. E, ora, esta humanidade nossa, com os defeitos, também faz parte de um filme dramático contemporâneo onde o objetivo é deleitar sob os próprios olhos a nudez humana.
Sim, eu ainda acho nossa vida um cinema, uma obra de arte, uma música efêmera a pairar no topo das nossas próprias cabeças, incessantemente.
Eu ainda vejo nos teus olhos de absinto, uma câmera admirando as imagens, os sentidos. Ainda me vejo sonhar... e eu vejo, realmente, que isso pode nunca acabar.

Nestes dias, meu bem, em que acordo por um cigarro e vejo, através da claridade da cortina semi-aberta, as tuas pernas pálidas tão distantes da coberta, enquanto o sol erradia os seus fios de cabelo, o sentido de estarmos juntos, o sentido de amar.

Por que? Por que as horas a fio passam e a garrafa de vinho nunca é a mesma. Por que o cheiro da tua manhã não é a mesma. Por que a rotina, quando tenta cair nas minhas costas, à esmo, é empurrada pelo nosso quarto avermelhado pra bem longe da porta.

Por que ainda vejo. Por que enxergo. Por que sinto. Por que ainda te fotografo com os olhos, por que ainda te ouço como um livro sempre inacabado. Por que te sempre te decifro.

E decifro.

Por que te amo, e por que te amo, e te amo, e te amo...

e Ponto, e basta.

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